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Coordenadoria da Mulher capacita profissionais para atuarem em grupos reflexivos

 

24-07-23

Desde a segunda-feira, dia 24, ocorre no Tribunal de Justiça de Sergipe uma capacitação voltada para a metodologia dos grupos reflexivos, da qual participam profissionais que atuam no atendimento psicossocial nos municípios do interior de Sergipe. O curso é promovido pela Coordenadoria da Mulher e segue até a sexta-feira, dia 28.

"O objetivo é disseminar a metodologia dos grupos reflexivos e implantá-los nos municípios do interior do Estado, para que possamos fortalecer uma política judiciária. Hoje, os juízes, principalmente os que atuam nas comarcas do interior, quando se deparam com um caso de violência doméstica e pretendem encaminhar os homens autores dessas violências para grupos reflexivos não encontram um local, uma iniciativa, então, a ideia é justamente capacitar profissionais, proporcionar esse conhecimento, para que possa haver grupos reflexivos nos municípios" explicou Sabrina Duarte, psicóloga da Coordenadoria. Ainda, de acordo com ela, hoje, em Sergipe, existem apenas sete iniciativas que desenvolvem os grupos reflexivos.

A capacitação aborda temas relacionados à violência de gênero, o uso dos grupos reflexivos como estratégias de promoção, prevenção e reabilitação de autores de violência e traz a metodologia realizada pelo projeto de extensão “Viver Melhor”, desenvolvido pelo psicólogo João Paulo Feitosa, facilitador do curso.

"Os grupos reflexivos surgem como uma tecnologia que dá suporte a toda uma sistemática voltada para prevenção e combate à violência contra a mulher. Então, a proposta de trabalhar com autores de violência doméstica é basicamente oferecer uma possibilidade de reflexão para essas pessoas, de maneira que elas não reincidam na violência contra a mulher e possam, além disso, propagar as discussões que a gente traz durante o grupo, o que envolve a ideia da relação social, de relações sustentáveis, de relações mais igualitárias para sociedade", relatou João Paulo.

Com relação à reincidência, o psicólogo acrescenta que os resultados atingidos entre os participantes dos grupos reflexivos são animadores, uma vez que apenas 2% voltam a cometer violência doméstica. "Eu coordenei grupos reflexivos aqui em Sergipe entre 2014 e 2020, e durante esse processo nós atendemos mais ou menos 400 homens autores de violência doméstica. Nós identificamos uma estatística de reincidência de 2.7, ou seja, desse total de pessoas que foram atendidas nos grupos apenas 2% voltaram a cometer a violência doméstica. Isso significa que existe uma taxa de sucesso muito maior do que 95%, o que é um alívio na demanda processual, mas sobretudo um alívio para outras mulheres que eventualmente poderiam ter sido vítimas de violência doméstica", expôs o professor João Paulo.

A psicóloga Aparecida da Cruz Fraga atua no atendimento psicossocial do município de São Domingos e participou da capacitação. Ela, que quando criança presenciou violência doméstica e durante a graduação atuou como estagiária nos grupos reflexivos, falou sobre a experiência e da importância da metodologia dos grupos.

"Eu fui desafiada a participar desses grupos reflexivos no período do estágio, na faculdade e foi extremamente desafiador, por conta de históricos na família, quando eu tinha dez, doze anos de idade, presenciei cenas violentas de agressão. Mas, ao entrar em contato com esses homens, desde o acolhimento no Fórum à condução do grupo reflexivo, pude ir quebrando essas barreiras, desconstruindo aqueles conceitos e, ao final, pude presenciar a mudança, como esses homens passaram a refletir sobre a fala, sobre as ações; como foi sendo desconstruído na cabecinha de cada um deles aquele ato, o porquê aconteceu; e a vontade de agir diferente. A partir dessa experiência nos grupos reflexivos, eu tenho certeza que esses grupos, se implantados em cada município, trarão resultados significativos e, consequentemente, a redução de violência doméstica", comentou Aparecida.

O coordenador do CRAS do município de Arauá, Lucas Góes Araújo, também participante do curso, salientou que, com a inauguração recente do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram) no município, o grupo reflexivo complementará a política de combate à violência. “O Município de Arauá inaugurou recentemente, no mês de março, o Cram. Então, nossos profissionais, com esse conhecimento, poderão atuar de forma mais abrangente com esse público, porque não adianta só a gente trabalhar a vítima, a gente tem que trabalhar desde a vítima até o homem agressor e, assim, tentar mudar essa realidade”, reforçou ele.

Conforme explicou Sabrina Duarte, a Coordenadoria da Mulher promove um entrelaçamento de ações voltadas ao enfrentamento da violência, capacitando a rede de atendimento. “Temos idealizado e concretizado o trabalho de implementação dos Centros de Referência de Atendimento à Mulher e nos engajamos nesta outra possibilidade dos grupos reflexivos, para justamente complementarmos o trabalho com a mulher e o trabalho com o homem autor de violência. Acolher a mulher em situação de violência é muito importante, porém devemos trabalhar na causa do problema, na causa da questão, na causa da violência doméstica contra a mulher”, concluiu Sabrina.

 

Texto/Matéria: Dircom TJSE

Fotografia: Raphael Faria Dircom TJSE